8 de ago. de 2015

ESPECIAL 30 ANOS – LEGIÃO URBANA, MUDANÇA DE COMPORTAMENTO E OUTROS DISCOS


Legião Urbana - Legião Urbana








É inegável a marca que a explosão de artistas ocorrida nos anos 80 deixou na música popular brasileira, principalmente dentro do rock nacional. Por mais que contestadores xiitas afirmem e reafirmem que nada mais forjaram do que beber na fonte de bandas como The Clash, The Doors, The Smiths, Sex Pistols, The Jam, Talking Headas, The Who, U2, The Ramones e tantos outros monstros sagrados, impossível negar que o fizeram com muita competência e porque não, certa originalidade. E dentre tantos excelentes trabalhos lançados naquela década, um em especial merece destaque: “Legião Urbana”, de 1985, que em 2015 completa 30 anos. O primeiro disco homônimo da banda formada por Renato Russo, Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos e Renato Rocha, naturalmente se tornou um dos mais importantes não só para seus contemporâneos, mas também para as gerações seguintes. É fato de que não se tratava de um quarteto de músicos excepcionais, mas nascia ali a trajetória de um grupo elevado por seu público ao status de uma espécie de mito, principalmente pelo discurso ora contestador ora romântico ora ácido ora melancólico, mas sempre muito realista de Renato Russo. Não se tratava dos primeiros passos de Renato na música, ele já o fazia desde o final dos anos 70 e já era bastante conhecido na cena brasiliense, contudo foi através de “Legião Urbana” que suas canções começaram definitivamente a ganhar o território nacional, mesmo não sendo este o maior sucesso comercial da banda. É fácil afirmar que o disco traz um repertório clássico, nele estão faixas como “Será”, “Geração Coca-Cola”, “Ainda é Cedo”, “Soldados”, “Teorema” e “Por Enquanto”, faixas estas que acompanharam a banda na maioria de suas apresentações ao longo de sua curta carreira (pouco mais de uma década). Novos discos vieram, sucessos maiores foram alcançados, mas a primeira boa impressão que “Legião Urbana” deixou não poderá ser esquecida, até mesmo por aqueles que nestas três décadas insistem em diminuir a grandeza dos legionários.


No ano de 1985, outros trabalhos históricos também chegaram ao mercado:


Ira! – Mudança de Comportamento








Disco de estreia da banda paulistana Ira!, inicialmente cultuada no underground e que se tornaria uma das mais importantes, expressivas e longínquas de sua geração. O grupo claramente abordou referências da cena pós-punk, particularmente da vertente mod, que tinha como base bandas como The Who, The Kinks ou The Jam, numa linguagem musical coesa e vigorosa aliada a poesias juvenis simples e diretas. Nesse trabalho inaugural, apresentam, entre outras, canções como “Núcleo Base”, “Tolices”, “Longe de Tudo” e “Mudança de Comportamento”, interpretadas na voz potente do vocalista Marcos Nasi Valadão acompanhado do talento musical diferenciado do guitarrista Edgard Scandurra. Mesmo não alcançando a repercussão de seu sucessor, “Mudança de Comportamento” prova ser um trabalho atemporal, estabelecendo conexões não só com o cenário da época, mas também com referências de décadas passadas.



Metrô – Olhar







O Metrô alcançou o sucesso radiofônico com a música “Beat Acelerado” em 1984, o que lhes rendeu o disco de estreia em 1985. Mais três sucessos de rádio foram conquistados: “Johnny Love”, “Ti ti ti” e “Tudo Pode Mudar”. Pouco tempo depois, brigas e desentendimentos puseram fim a curta história dessa banda que tinha como mote a new wave, um dos principais estilos musicais do período.



Kid Abelha e os Abóboras Selvagens – Educação Sentimental







Segundo disco do Kid Abelha, “Educação Sentimental” está um passo a frente de seu antecessor, demonstra uma banda em pleno amadurecimento e traz canções de valor na carreira do grupo, como “Lágrimas e Chuva”, “Educação Sentimental”, “Garotos” e “A Fórmula do Amor”, todas grandes sucessos. É o último álbum que conta com a participação do baixista Leoni, até então principal letrista ao lado da vocalista Paula Toller. Outro exemplo de longevidade dentre tantos grupos que surgiram na mesma época, o Kid Abelha, hoje sem Os Abóboras Selvagens no nome, segue trilhando seu caminho bem estruturado dentro do pop rock nacional.



RPM – Revoluções por Minuto







Um dos campeões de vendagens de 1985, o RPM surgiu com seu álbum “Revoluções por Minuto” e ultrapassou a marca de 300 mil cópias vendidas, algo estrondoso para a época. Recheado de hits como “Olhar 43”, “Louras Geladas”, “Rádio Pirata” e “A Cruz e a Espada”, “Liberdade/Guerra Fria”, “Juvenília” e “Revoluções por Minuto”, começava ali a montanha russa em que se tornaria a carreira de Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo Pagni, mas que os afirmaria como um dos maiores fenômenos de nossa música, proporcionando momentos de verdadeira histeria e fanatismo por parte do seu público, algo que levou muitos a associá-los à explosão da Beatlemania. Elementos de pop, rock, eletrônico e progressivo deram o tom para este disco. Certamente um clássico do rock nacional.



Ultraje a Rigor – Nós Vamos Invadir Sua Praia







Com “Nós Vamos Invadir Sua Praia” o Ultraje a Rigor alçou voos poucas vezes vistos dentro do rock tupiniquim: sucesso de venda, de público, radiofônico e de crítica. Impossível quem viveu a segunda metade dos anos 80 não conhecer várias das suas músicas, já que pelo menos nove das onze faixas emplacaram em todas as formas de mídia existentes na época. Alguns exemplos? “Ciúme”, “Rebelde Sem Causa”, “Mim Quer Tocar”, “Eu Me Amo”, “Inútil”, “Nós Vamos Invadir Sua Praia” e “Marylou”. O Ultraje ainda se manteria em evidência por pelos menos mais dois lançamentos, mas o efeito meteórico de “Nós Vamos Invadir Sua Praia” jamais se repetiria. Roger Moreira, vocalista, guitarrista e principal compositor é o único remanescente da formação original do grupo que conquistou os ouvintes com muita irreverência e bom humor, mas também com boas e inteligentes doses de crítica social.



Plebe Rude – O Concreto Já Rachou







O cartão de visitas da Plebe Rude, na época batizado de mini LP por conter menos músicas do que um disco convencional mostrou bem a que veio a banda: letras fortes e inspiradas, arranjos e melodias marcantes em um dos mais consistentes lançamentos realizados no longínquo ano de 1985. As influências e referências do grupo ficam claras logo nos primeiros acordes – o punk rock. Apesar do sucesso da estreia (200 mil cópias vendidas), os integrantes da Plebe Rude praticamente não abriram concessões para alcançar o estrelato, mantendo a postura contestadora que sempre permeou seus trabalhos. Entre idas e vindas e mudanças de seus membros, a banda continua na ativa produzindo música de qualidade mesmo não repetindo a força que canções como “Até Quando Esperar”, “Brasília”, “Johnny Vai a Guerra”, “Minha Renda” e “Proteção” continuam a demonstrar até os dias atuais.



Titãs – Televisão







De acordo com resenhas especializadas, em seu segundo trabalho os Titãs buscaram desenvolver a ideia de que cada canção do álbum “Televisão” funcionasse como uma espécie de canal, o que, também segundo resenhas, provocou falta de unidade entre as músicas. O ano de 1985 não foi dos melhores para a banda: desentendimentos com o produtor Lulu Santos, a prisão de Arnaldo Antunes e Tony Bellotto por porte ilegal de entorpecentes e ainda a concorrência de outros grandes lançamentos fizeram com que “Televisão” não figure entre os maiores sucessos do conjunto. Nele, Charles Gavin estreia como baterista e estão as faixas “Insensível”, “Dona Nenê” e “Massacre”, talvez seus maiores destaques.



Cazuza – Exagerado







Mesmo estando em plena ascensão com o Barão Vermelho após o lançamento de ”Maior Abandonado” e das apresentações antológicas no primeiro Rock In Rio, o irrequieto Cazuza resolveu se separar de seus companheiros e partir para carreira solo. E como primeiro lançamento nos brindou com “Exagerado”, disco que apresentava para o grande público suas composições e algumas outras herdadas da separação de seu antigo grupo. Cazuza é considerado, e de forma justa, um dos maiores representantes de sua geração, um poeta vezes marginal, vezes boêmio e outras tantas romântico, mesmo que à sua moda. Em “Exagerado” estão canções como a própria faixa título (que alcançou relevante destaque) e ainda “Medieval II”, “Mal Nenhum”, “Boa Vida” e “Só as Mães São Felizes”. Não foi o maior sucesso comercial de sua curta carreira, mas certamente imprescindível dentro da história desse artista genial que deixou a vida cedo demais.



Zero – Passos no Escuro







A carreira do Zero também é marcada por idas e vindas e certamente por este motivo não se firmaram como uma das grandes bandas da década de 80. Contudo, o mini LP “Passos No Escuro” deixou sua marca devido principalmente ao sucesso de duas de suas faixas: “Agora Eu Sei”, dueto com Paulo Ricardo do RPM e “Formosa”. Enquanto na ativa, o grupo trilhou um caminho baseado em new romantic ou new wave, utilizando instrumentos como teclados, sintetizadores e bateria eletrônica somados à potente voz de Guilherme Isnard e a composições de um nível muito bom. A última reunião do grupo se deu em 2007.



Garotos Podres – Mais Podres do que Nunca







Surgidos no início da década na cidade de Mauá, os Garotos Podres lançaram em 1985 seu primeiro disco, gravado e mixado em menos de 20 horas e produzido por Redson, um dos ícones do movimento punk paulistano. Em “Mais Podres do que Nunca” nada mais existe do que o estilo punk e o oi! em seus estados seminais – letras de protesto somadas a arranjos e melodias no estilo ‘faça você mesmo’. Apesar de ser direcionado para um público restrito, “Mais Podres do que Nunca” chegou a vender mais de 50 mil cópias na época, um verdadeiro recorde no cenário independente, o que levou algumas de suas faixas a serem executadas na programação normal das pouquíssimas rádios que apoiavam o rock nacional. Neste disco antológico estão, entre outras, as faixas “Papai Noel Velho Batuta”, “Johnny”, “Anarkia Oi!” e “Eu Não Sei o que Quero”.



Tokyo – Humanos





Com a mistura de um chamado techno-punk, new wave e pop rock, a banda Tokyo, liderada pelo vocalista Supla apareceu para o cenário nacional com a música “Garota de Berlim”, que contava com a participação especial de Nina Hagen nos vocais. Também completando seu trigésimo aniversário, o disco “Humanos” é mais um exemplo dos bons frutos que os anos 80 renderam para o nosso rock, mais um exemplo da efervescência cultural vivida naquele período. Mesmo sendo contemporâneo de trabalhos do quilate de “Legião Urbana”, “Mudança de Comportamento”, “Nós Vamos Invadir Sua Praia” e “Revoluções por Minuto”, “Humanos” se mostrou bastante competente e consistente. Há nele músicas muito boas, casos de, por exemplo, “Eu Sou Triste”, “Intenções”, “Humanos” e “Roupa X”. Apesar de não ter sobrevivido ao tempo, o Tokyo deixou para a história um disco de boa qualidade.



Marcelo 

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