28 de mar. de 2012

HOMENAGEM A MILLÔR FERNANDES (1923-2012)













Marcelo


FORA DE ORDEM
CHINATOWN – THIN LIZZY


























Faço uma homenagem e a minha rendição ao grupo Thin Lizzy, grande injustiçado dos anos setenta, sem a menor sombra de dúvida, não só por mim, mas pela grande maioria dos roqueiros brasileiros, dos quais muitos eu conheci e por isso tomo como base para o que digo. O Thin Lizzy, banda de hard rock irlandesa, nascida em Dublin no ano de 1969, tinha como líder um senhor baixista, grande vocalista, compositor e figura altamente carismática chamado Phil Lynott. Inclusive é bom frisar que Lynott foi um dos pouquíssimos negros a conseguir sucesso dentro do clube altamente branco não só do hard rock, mas do rock em geral. Com letras mais comuns à juventude da época e levadas contagiantes, conseguiu furar esse bloqueio à sua cor e procedência. No Thin Lizzy não havia preconceitos de raça, cor ou religião. Pelo grupo passaram músicos dos dois lados da Irlanda, da Inglaterra, Estados Unidos e da Escócia. Apesar das mudanças em sua formação, o grupo se manteve firme durante toda a década de setenta e começou a ter problemas no começo dos anos oitenta com o abuso no uso de drogas de seu líder, o que resultou no fim do grupo em 1983 com uma turnê de despedida. A banda voltou por duas vezes com outro baixista e Phil tentou continuar, gravando sozinho e tentando outra banda, mas já estava muito debilitado e não resistiu. Em 4 de janeiro de 1986, faleceu Philip  Parris Lynott, negro, filho de mãe irlandesa, vítima de complicações vindas do uso excessivo de drogas. E a música perdeu mais um gênio. Para se entender a injustiça, nós roqueiros egoístas nos concentramos na trindade Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, e esquecemos de dar uma chance ao Thin Lizzy no auge de sua carreira. O disco que estou indicando Chama-se Chinatown, o décimo trabalho de estúdio dessa banda, gravado em 1980 em meio a turbulências e mudanças, mas por ironia um dos melhores discos não só desse grupo, mas do rock em todos os tempos. Feita a rendição, gostaria de compartilhar esse disco e essa homenagem com todos aqueles que, assim como eu deixou passar batido um trabalho dessa qualidade. Baixe, analise e comente.

Zé Vicente




FORA DE ORDEM

MINAS   -   MILTON NASCIMENTO
























O cantor Milton Nascimento é um patrimônio da música popular brasileira. Uma das pessoas que merecem o respeito de cada cidadão, pela sua contribuição não só musical, mas à arte em geral em nosso país. Não se espantem se algum dia, algum órgão resolver tombar o trabalho desse cidadão meio carioca meio mineiro que tanta gente encantou pelo mundo afora com sua garganta privilegiada e simples. Em outubro desse ano o “Bituca” como é tratado pelos mais íntimos, completará 70 anos de idade e mesmo assim ainda está por aí emocionando ouvintes por todos os cantos do planeta. E de quebra, também completa 50 anos de carreira. Mas eu não vou contar aqui a sua história. Esta seção foi feita pra sugerir discos. O Milton sempre foi uma pessoa muito discreta e eu deixo essa missão para os biógrafos. E por falar em patrimônio da música, eu indico um, então. É o disco Minas, trabalho de Milton lançado em 1975 e o nono disco dos mais de trinta de sua trajetória. Quase quarenta anos depois o disco ainda é emocionante. De grande simplicidade e pureza em contraponto com seus arranjos complexos e geniais, o Minas é simplesmente indispensável em qualquer discoteca que se preze. É um disco obrigatório. Ele não tem data. Apesar de lançado em 75, continua atual e interessante e deveria ser conferido. Assim sendo colocamos um link à disposição para quem quiser fazê-lo. Tenho certeza que se houver algum comentário, será positivo. Não pode ser de outra forma.


Zé Vicente

http://www.filestube.com/b2kDsjiWRcOUhsPh19uUdE/Milton-Nascimento-Minas-1975.html




LITERATURA























Cinco Ésses (2)

bebo demais
não consigo parar de beber
acho que vou morrer
de tanto beber


bebo desde sempre
desde os catorze anos
bebo, bebo e depois vomito
depois volto a beber
não sou um bom exemplo
afaste as crianças

bebo no pernambuco
na nininha e no osvaldinho
no vavá, no andré, no rubão
e no baixinho também
ressaca eu sempre curo
com outra dose


bebo em casa e no futebol
de manhã, de tarde
de noite e de madrugada
bebo sozinho se não tiver companhia
só no serviço eu me seguro


bebo conhaque, uísque e vódca
vermute, cerveja, vinho e etecétera
mas o meu forte é a cachaça
são francisco, cincoenta e um
ipióca ou serra grande
tanto faz como fez
não consigo diminuir
o galope acelerado do cavalo
da minha aflição sem cura


bebo pra caralho
indistintamente
infinitamente
eternamente
as minhas assombrações
não adormecem nunca


Akira Yamasaki

+ 1 VIDEO
LINKIN PARK - WAITING FOR THE END (traduzido)





Marcelo

24 de mar. de 2012

A sexta-feira chega
E rouba de mim momentos relevantes
E mergulhado num fim de semana de ansiedade
Sinto saudade da segunda-feira


Marcelo

23 de mar. de 2012

MESTRE CHICO ANYSIO (1931 - 2012)


 




Papo de Esquina

21 de mar. de 2012

Um quadrinho para reflexão






Marcelo (postado originalmente em 09/09/2009)
GALERIA DAS ARTES



Café, 1935, Candido Portinari (1903-1962). Óleo sobre tela, mede 130 x 195 cm e faz parte do acervo permanente do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.


Marcelo
FORA DE ORDEM

BLUES FOR ALLAH  -  GRATEFUL DEAD



 







Pela história do rock passaram bandas que afetaram pessoas e épocas de tal forma que não ficaram conhecidas apenas pela música que fizeram, mas também pelo comportamento e carisma de seus integrantes. É o caso do Grateful Dead. Essa banda de São Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos, nasceu junto com um movimento que alterou o curso da humanidade no ocidente. O movimento hippie, o poder do amor e da flor. Formado em 1965 pelo guitarrista e vocalista Jerry Garcia, o grupo caiu nas graças das pessoas de paz e amor, com sua música às vezes exotérica, às vezes jazz, rock, country, gospel, blues e outras sem classificação, geralmente com execuções de longa duração nos shows ao vivo que levavam os fãs quase ao delírio, formando uma legião de seguidores por toda a sua carreira que durou trinta anos. Com a morte de Jerry Garcia em 1995, não fazia sentido continuar. Ele era quase um guru. Com Bob Weir, fiel escudeiro, guitarrista e vocalista, mais Phil Lesh, no baixo e Bill Kreutzmann na bateria além do auxílio de Keith e Donna Godchaux, Jerry Garcia conduziu o Dead ao disco de 1975, chamado Blues For Allah, que aqui apresento. É um disco mágico, a começar pela sua capa, que considero uma das mais bonitas do rock, tem um lado inteiro em seqüência que é cativante e outro que leva o ouvinte a uma viagem sonora. Isso no formato LP, original daquele ano. É peça obrigatória no acervo dos admiradores do bom e velho rock. O Blues For Allah é o décimo sétimo dos trinta e tantos discos do Grateful Dead. Vale a pena pesquisar. Se não conhece, eis a chance. Pode comentar.


Zé Vicente





FORA DE ORDEM

O DESCOBRIDOR DOS SETE MARES – TIM MAIA
























Dá até um certo medo de falar sobre o grande Síndico, Sebastião Rodrigues Maia, que para a música e para o mundo ficou apenas “Tim”. Pra contar a história desse artista controverso e genial seria necessário muita letra e muita fôlha. Muito riso e muito choro, emoção e saudade. A inquietude de Tim Maia, transcende à maioria dos grandes artistas do nosso país. Ele morreu aos 55 anos de idade e este ano faria 70. Cantor, compositor e instrumentista, viveu intensamente dentro do turbilhão dos movimentos culturais e, principalmente musicais desde os anos cinquenta até quando nos deixou em 1998, tendo dividido trabalhos e influenciando um sem número de  artistas brasileiros durante toda a sua carreira. Tim Maia parece ter andado sempre um passo à frente de todos em nossa música . Morou nos Estados Unidos por um tempo desde o final dos anos cinquenta, e teve contato com a musica negra. Conheceu a soul music, o blues outros estilos de que misturam alma e ritmo, culminando com o contato, um pouco mais tarde, com o verdadeiro funk. Paro por aqui. Tenho que indicar um disco e sem mais conversa, escolho o Descobridor dos Sete Mares. De 1983. É o seu décimo terceiro disco e o que tenho a dizer é que todos aqueles que pensam que são artistas do funk ou do soul deveriam ouvir esse disco e sentir um pouco de vergonha. Ter humildade , voltar e aprender um pouco com essa figura ímpar da música brasileira. Pegue esse link e escute com atenção esse disco. A princípio ele pode parecer  comum, mas logo se descobre que não é. Se não concordar pode discutir em comentário.


Zé Vicente


http://www.filestube.com/1QQUGAi1QdWIMPmflUafX3/1983-O-Descobridor-dos-Sete-Mares.html



LITERATURA






















Na Estrada

Da encruzilhada,
A visão
Uma estrada que só vai
Outra,
Na contramão
E eu, sozinho, parado
Uma idéia na cabeça
Outra
No coração.
Ninguém ao meu lado
Pra dizer sim,
Tampouco, alguém
Que me dissesse, não
É o destino me escolhendo
Como se, da ponte
Eu fosse o vão
E a sorte lançada
Ao vento
Feito escada
Sem corrimão
Não chore, não ria
Não volte
A vida não dará
Perdão
Você escolhe o caminho
Onde muitos
Já estão
Não é sua mãe, ou seu pai
Nem seu amigo, ou irmão
Ninguém vai te dar amor
Nem vai dar
Sustentação
Só mais um só
Entre tantos
Que sozinhos
Já estão
Minha consciência
Grita
Eu não peço permissão
Quero meu mundo
Na estrada
Quero da vida
Emoção
Não vou voltar,
Sigo em frente
Sinto essa sensação
Quero vencer, vou vencer
Penso que agora é hora
De rebentar
O cordão
Não posso ser
Mais um fraco
Tendo o destino
Na mão
Se não for pra arriscar
Por que estar vivo
Então
Sei que a jornada
É difícil
A vida é um turbilhão
Por isso fecho os dois olhos
Coloco os pés na estrada
Dou as costas
Pra razão
Que não me julguem
Ou condenem
E nem me passem sermão
Sou só mais um ser
Nessa Terra
Procurando
Direção

Zé Vicente

16 de mar. de 2012

FORA DE ORDEM
THE SMITHS – THE SMITHS







 


Coloco nesta seção o primeiro disco do grupo The Smiths que foi lançado no ano de 1984. Formado em 1982 na cidade cinzenta de Manchester, Inglaterra, por Steven Patrick Morrisey e Johnny Marr, se firmou com Andy Rourke, baixista  e Mike Joyce, baterista. Morrissey vocalista e Marr, guitarrista, sempre foram a base nas letras e arranjos, respectivamente e os Smiths tiveram carreira curta. Duraram apenas cinco anos, o suficiente para revolucionar o rock dos anos oitenta. Estou sendo breve, para não haver empolgação, já que sou fã dessa banda e muito fã de Morrissey, que antes de tudo é um poeta fora do normal. Como é comum aos gênios, não poderia ser diferente com essa dupla de geniosos e espetaculares artistas do cenário pop. O sucesso rápido, o alto assédio, as diferenças de postura, o ciúme, entre outros motivos, levaram essas duas pessoas que se completavam à separação. Sugiro que seja feita uma consulta mais ampla sobra a vida desse grupo e serão esclarecidos muitos fatos ocorridos em sua carreira. A minha missão aquí é indicar discos. Resolví não colocar um dos outros dois posteriores porque julgo ser covardia. No disco intitulado apenas The Smiths, nada e ninguém ainda era conhecido e o disco já nasceu recheado de belas canções e melodias singulares que logo se tornariam obrigatórias ao apreciador do que é novo e sincero no cenário musical. O que ficou de bom é que Morrissey seguiu em carreira solo e continua nos brindando com sua música de poesia visceral e singular e ficaram também como registro, o trabalho desse pessoal em quatro discos belíssimos. Curta este, e procure ouvir os outros. Quem ainda não é, pode se tornar mais um admirador de Morrissey e seus breves companheiros, quem já gosta, só vai endossar o que eu disse. Se achar interessante, comente
Zé Vicente
http://www.firstload.com/?uniq=9034f6375c05f368&log=47383&fn=the+smiths+the+smiths+filestube


 

FORA DE ORDEM


PINTANDO O SETE  -  LUIZ MELODIA

























Vou apresentar aqui, um disco de Luiz Carlos dos Santos, o Luiz Melodia, um negro magrelo nascido no Bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, hoje com 61 anos de  idade, que desceu o morro de São Carlos pra mostrar todo o seu potencial no asfalto do mundo. O Melodia, apesar da forte influencia da  jovem guarda nos anos sessenta, não fixou seu trabalho em nenhum estilo determinado. Sua musica passa pelo rock, pelo blues, pelo samba, o chôro e mais um tanto de estilos musicais, sempre com muito critério em suas composições e arranjos. Ele poderia ser apenas mais um sambista carioca, mas transcendeu a essa tendência do artista negro nascido em um morro qualquer do Rio. O disco que escolhí para indicar nesta seção foi o Pintando o Sete, de 1991, que é o oitavo de sua carreira. É disco pra se ouvir inteiro. Pode até não ser o melhor, mas com certeza é um disco baseado em muito bom gosto. Belos arranjos e músicas revisitadas com sabedoria e respeito, peculiares a esse grande artista. Ele participou de festivais e isso até que alavancou sua carreira de certo modo, mas não é tão bajulado assim pela mídia em geral chegando a ser considerado por alguns como maldito. Mas se está na ativa até agora é porque tem o seu valor. Vale a pena dar uma geral em seu trabalho. Tem muita coisa boa. Por enquanto, fique com o Pintando Sete. Pegue o link, ouça e comente.

Zé Vicente

https://rapidshare.com/#!download|369l32|99635487|UQT1991_Luiz_Melodia_-_Pintando_O_Sete.rar|60075|R~E8C99A6FFBF17B5EABDDB23C64015D5F|0|0





14 de mar. de 2012

VALE CONFERIR


O parceiro e redator do blog "O Mundo Dentro da Minha Cabeça", Márcio Silva, foi um dos 10.000 privilegiados que no último dia 11 estiveram na apresentação do lendário cantor e compositor Morrissey em São Paulo. No seu blog, ele dá um depoimento muito particular daquilo que foi uma noite mais do que especial para aqueles que acompanham a carreira do músico inglês. Confiram! E compartilhem esse momento no link http://marcios77.blogspot.com/ 






Marcelo

13 de mar. de 2012

II FESTIVAL DE ÁGUAS CLARAS


Eu estava com dezenove anos de idade e trabalhava no extinto Banco do Commércio e Indústria de São Paulo quando ouvi falar pela primeira vez a respeito de um festival de rock que se realizaria numa fazenda no município de Iacanga, cidade próxima a Bauru no estado de São Paulo. Era o ano de 1975 e esse festival de fato aconteceu nesse ano e foram convidadas bandas de rock e apenas dois ou três cantores. Os grupos estavam quase todos no auge de suas carreiras e entre os mais famosos até hoje estavam Mutantes, Som Nosso de Cada Dia e O Terço e os cantores Jorge Mautner e Walter Franco. O nome dado foi Festival de Iacanga e eu por falta de estrutura, grana e tempo, tive que me conformar. Apesar da grande vontade, não pude ir a esse grande festival. Foi uma espécie de Woodstock no Brasil, onde tudo rolou num clima de paz e amor, foi consumida muita droga e feitos muitos filhos entre uma banda e outra no palco e que pela pouca divulgação esse festival ficou quase só na memória de quem lá esteve.
























Tinha que fazer essa introdução pra falar de fato do maior e melhor festival já acontecido em nosso país só com músicos do Brasil. Estou falando do II Festival de Águas Claras. Ficou conhecido como II Festival porque o atrelaram ao de 1975, antes chamado apenas Festival de Iacanga. Como aconteceram quatro festivais na mesma fazenda, achou-se melhor chamar a todos de Festival de Águas Claras. Soa mais bonito. E dos quatro, o segundo foi, sem dúvida, o melhor e mais bem organizado. Estive no segundo e no terceiro. No segundo, tudo era novo pra mim e para a grande maioria de jovens que lá estiveram nos dias 4, 5 e 6 de setembro de 1981.
Vou procurar não ser muito técnico e detalhista pois acho até que nem interessa muito. Fomos em quatro amigos de carro, um Corcel em muito bom estado pertencente a um grande amigo chamado Zé Durval. Saímos de madrugada de São Miguel, e, numa viagem tranqüila, chegamos antes da hora do almoço naquela fazenda que já parecia uma grande colcha de retalhos coloridos quando vista de longe. Eram milhares de barracas de todos os tipos, tamanhos e cores e centenas automóveis. E muita gente circulando pelo pasto ralo e seco daquela fazenda. A gente não tinha nem idéia do que estava por vir.















No caminho entre Bauru e a fazenda, esse era o visual que nos acompanhou durante todo o percurso. Caroneiros com suas mochilas, aos montes. Não havia transporte regular para a zona rural de Iacanga naquele tempo. Muitos desse caras não tinha nem ingresso e fizeram peripécias para burlar a segurança e entrar na fazenda através da cerca depois de muita caminhada pelo meio do mato.















 Ao chegar à fazenda, a primeira visão que tivemos foi esta. Barracas e automóveis amontoados socialmente. Algo nunca antes visto. Foi uma grande emoção.

Escolhemos um lugar no alto de uma pequena colina para armar nossa barraca e quando nos preparávamos para dar o primeiro rolê para reconhecimento do local, gritos desesperados ecoaram pela colina e uma língua de fogo lambia rapidamente a grama seca em nossa direção. Tivemos que voltar correndo para desarmar a barraca e tirar o carro do caminho do fogo, enquanto dezenas de pessoas tentavam apagar o incêndio com o que se tinha à mão naquele momento. Lençóis, jaquetas e calças jeans. Água só nas represas e nas bicas muito distantes de onde estávamos. Resolvemos, então procurar um lugar melhor, se é que havia, e encontramos um pedaço legal a uns cinqüenta metros do palco que ficava numa espécie de vale, proporcionando uma visão privilegiada para todos os espectadores.


















A vestimenta principal do jovem dos anos setenta e oitenta era o jeans e camisetas de preferência brancas ou de cor clara. No local dos shows, ir de bermuda era convite aos pernilongos de plantão. Daí se explica os corpos cobertos de roupa mesmo no calor.
















 Mas nas represas a coisa era diferente. Na hora do banho a nudez era totalmente liberada. Era uma multidão de corpos nus misturados a animais, dividindo a água fresca das represas e bicas espalhadas pelos cantos da fazenda, pouco além do mar de barracas.




Neste festival, todas as atrações valiam a pena. Era preciso muita energia para assistir ao maior número de shows que fosse possível. Aí já não era um festival só de rock. Foi uma mistura incrível de grandes nomes da música brasileira, todos atravessando o melhor momento de suas carreiras e com uma vontade louca de tocar porque, afinal, aquilo também era uma coisa totalmente nova para todos eles. Teve música de todo tipo. Do rock ao baião, passando pelo jazz e progressivo. Os shows foram memoráveis.

















Por este palco simples, sem cenários cinematográficos e sem fundo, passaram nos três dias, simplesmente: Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Egberto Gismonti, A Cor do Som, Moraes Moreira, Bendegó, Hermeto Paschoal, Papete, Almir Sater, Duduca e Dalvan, 14 Bis, Oswaldinho, Diana Pequeno, Raul Seixas, Tetê Spindola, Zé Geraldo, Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia e mais um bocado de Artistas de menor expressão que tocavam à tarde para não deixar cair o clima e manter a agitação constante daquelas 30 mil pessoas juntas pelo mesmo objetivo. Na foto acima, Zé Geraldo iniciava os trabalhos no primeiro dia do festival.


Os shows normalmente eram longos e carregados de muita energia. Depois de um dia de calor intenso, descia um friozinho com vento quando caia a noite e a gente ia da barraca pra frente do palco enrolados no cobertor e o cantil de conhaque cheio pra aguentar a noite inteira de som intenso. Durante a noite, enquanto rolava os shows, baseados dançavam de mão em mão como vagalumes na escuridão. Uns namoravam, outros dormiam, outros transavam, enquanto muitos estavam em transe em meio à fumaça misturada com a neblina.

Testemunhamos shows inesquecíveis neste festival. O Egberto Gismonti levou artistas de circo originais para encenarem enquanto ele tocava o repertório do seu disco da época chamado Circence, um de seus melhores trabalhos. Gilberto Gil, belo show, Alceu Valença, no auge da carreira, entre Coração Bobo e Cinco Sentidos, num longo e energético show. O Raul teve sua melhor performance da carreira. Ele cantou as música inteiras e seu guitarrista Tony Osanah estava sensacional nessa noite. A Bandeirantes registrou esse show. Quem conseguir uma cópia vai comprovar que estou certo. O Raul tava muito a fim nessa noite. O Luiz Gonzaga parecia fora do contexto. Entrou no palco depois do Raul e chegou a ser vaiado por alguns desavisados, mas depois de algumas músicas a coisa mudou e ele teve que esticar sua apresentação para satisfazer a vontade de todos e provocar a rendição dos que vaiaram. E o Hermeto Pascoal tocou de meia noite às seis da manhã sem parar. Precisava mais? Só isso ja valia a pena mas ainda tivemos country de Zé Geraldo e Almir Sater, A Cor do Som e Moraes Moreira, no auge, sertanejo raiz com Duduca e Dalvan e mais uma porrada de coisa boa.



E tinha a vida no período de decanso que ia até mais ou menos até as duas da tarde, que era quando se ia pro banho nu nas represas, pras barracas de alimentação em torno do grande acampamento, pros passeios pelo meio das barracas vizinhas onde, de repente, se encontrava um conhecido ou se fazia uma nova amizade ou então se dormia o tempo todo para encarar a próxima longa noite. Tudo dentro da maior harmonia. Nesses tres dias, presenciei muita gente usando drogas de todo tipo. Havia até barracas de venda espalhadas pela fazenda, vi muitos casais transando durante os shows, sem o menor constrangimento, muitos casais com filhos pequenos, muitos adolescentes acompanhados dos pais unidos pelo gosto musical e pela liberdade. O policiamento no festival, ficou além das cercas e em nenhum momento foi preciso usar da força bruta. Tudo transcorreu na maior paz. Foram tres dias inesquecíveis.
Voltamos para casa alegres e com as baterias totalmente carregadas. Mal sabíamos que aquilo tudo tinha acontecido porque o pai do Leivinha (Antônio Checchin Junior), organizador do festival, tinha permitido e ajudado no evento, na intenção de manter o filho, que na época era um viajante desmiolado e que rodava pelo mundo, por perto de casa. Ele jamais imaginou que a coisa iria tomar tamanhas proporções.


Aproximadamente trinta mil pessoas se juntaram naquele local mágico para escrever o nome desse evento que foi chamado de quermesse, na história da música brasileira.

Nos meus 56 anos de idade, ví muitos shows nacionais e estrangeiros, fiz muitas viagens também, mas guardo esse festival como um dos momentos mais felizes de toda a minha vida. Estive por tres dias num mundo anarquista, sem regras pré estabelecidas, sem preconceitos e sem lições de moral e sem leis ou políticas antiquadas. Cada um sabia o que tinha que ser feito. Cada um sabia do bem e do mal a que se submetia. Cada um respeitou seu semelhante durante todo o tempo e entre mortos e feridos salvaram-se todos.
















O cara que tirou essas fotos e disponibilizou na internet chama-se Vander Verão e agradeço a ele pelas fotos e pela emoção que elas nos faz sentir.




Ainda existe muita história escrita sobre esse  festival pela internet afora e tenho a informação que um cineasta deconhecido está preparando um documentário sobre esse evento com muito material inédito. É bom ficar ligado.






Zé Vicente