LANÇAMENTO COMENTADO
LOBÃO – O RIGOR E A MISERICÓRDIA (2016)
Mais do que fãs, nos últimos anos Lobão conseguiu
arrebanhar um número crescente de pessoas que adoram criticar suas críticas. Pessoas
estas (“midiáticas” ou não) que ou não conhecem absolutamente nada sobre o
artista ou esqueceram-se da acidez que sempre lhe foi peculiar. Lobão sempre
foi Lobão, nunca precisou se travestir num oportunista de plantão ou seguir modismos.
Há pouco tempo, depois de um hiato de onze anos sem lançar um álbum de inéditas
(somente gravações ao vivo), ele nos apresentou “O Rigor e a Misericórdia”, seu
16º trabalho, recheado de temas que refletem sua posição política, além de manifestações
sobre vicissitudes sentimentais e problemas sociais. Não se trata de um
discurso direto, ao longo dos anos fica claro que a maneira de Lobão compor tem
se tornado cada vez mais complexa, o que torna necessário mais de uma audição para
que o disco seja assimilado. A produção e todos os instrumentos ficaram a cargo
de Lobão, que demonstra competência não só com a bateria, seu instrumento de
origem. É bem verdade que em certos momentos há um exagero nas melodias, na
parte instrumental e nos vocais, que talvez necessitassem de uma produção mais
esmerada, dando um polimento maior ao trabalho, contudo, “O Rigor e a
Misericórdia” mostra a pretensão de ser um disco de rock, e no rock as
estruturas nunca necessitaram estar devidamente em seus lugares. Como já dito,
Lobão expressa suas opiniões sobre a empobrecida (não no sentido financeiro)
política nacional, caso das faixas “A Marcha do Infames”, “Os Miseráveis” e “A Posse
dos Impostores”, porém, esta fase vivida pelo compositor não dá tom único ao
disco que aborda também assuntos como o garimpo ilegal na Amazônia em “Assim
Sangra a Mata”, a dicotomia da solidão em “O Que Es la Soledad En Sermos
Nosotros” ou a simplicidade das coisas, decantada em “Uma Ilha na Lua”, entre
outros. Há ainda o blues rascante “Alguma Coisa Qualquer”, feito para Cássia
Eller há vinte anos, que permaneceu guardado até então. Enfim, com seus erros e
acertos, “O Rigor e a Misericórdia” entra para a discografia de Lobão como mais
um bom trabalho. Não figura entre os melhores, mas não pode ser ignorado.
Marcelo