1 de mar. de 2016

LANÇAMENTO COMENTADO
LOBÃO – O RIGOR E A MISERICÓRDIA (2016)
 
 

 
Mais do que fãs, nos últimos anos Lobão conseguiu arrebanhar um número crescente de pessoas que adoram criticar suas críticas. Pessoas estas (“midiáticas” ou não) que ou não conhecem absolutamente nada sobre o artista ou esqueceram-se da acidez que sempre lhe foi peculiar. Lobão sempre foi Lobão, nunca precisou se travestir num oportunista de plantão ou seguir modismos. Há pouco tempo, depois de um hiato de onze anos sem lançar um álbum de inéditas (somente gravações ao vivo), ele nos apresentou “O Rigor e a Misericórdia”, seu 16º trabalho, recheado de temas que refletem sua posição política, além de manifestações sobre vicissitudes sentimentais e problemas sociais. Não se trata de um discurso direto, ao longo dos anos fica claro que a maneira de Lobão compor tem se tornado cada vez mais complexa, o que torna necessário mais de uma audição para que o disco seja assimilado. A produção e todos os instrumentos ficaram a cargo de Lobão, que demonstra competência não só com a bateria, seu instrumento de origem. É bem verdade que em certos momentos há um exagero nas melodias, na parte instrumental e nos vocais, que talvez necessitassem de uma produção mais esmerada, dando um polimento maior ao trabalho, contudo, “O Rigor e a Misericórdia” mostra a pretensão de ser um disco de rock, e no rock as estruturas nunca necessitaram estar devidamente em seus lugares. Como já dito, Lobão expressa suas opiniões sobre a empobrecida (não no sentido financeiro) política nacional, caso das faixas “A Marcha do Infames”, “Os Miseráveis”“A Posse dos Impostores”, porém, esta fase vivida pelo compositor não dá tom único ao disco que aborda também assuntos como o garimpo ilegal na Amazônia em “Assim Sangra a Mata”, a dicotomia da solidão em “O Que Es la Soledad En Sermos Nosotros” ou a simplicidade das coisas, decantada em “Uma Ilha na Lua”, entre outros. Há ainda o blues rascante “Alguma Coisa Qualquer”, feito para Cássia Eller há vinte anos, que permaneceu guardado até então. Enfim, com seus erros e acertos, “O Rigor e a Misericórdia” entra para a discografia de Lobão como mais um bom trabalho. Não figura entre os melhores, mas não pode ser ignorado.
 
Marcelo

Um comentário:

Márcio Silva disse...

O pouco que escutei com você, gostei bastante! Como tudo que o lobo faz...