13 de mar. de 2012


LITERATURA
























Fala Vagabundo

Fala vagabundo
Quem foi que te libertou
Do vazio submundo
Do jornal que se queimou
Daquelas nebulosas
Torrentes de águas ardentes
Das pesadas cangas
Nos teus ombros doentes
Dos vermes, das traças
De afiados dentes

Fala vagabundo
Da dor que te cortava
Do vício fecundo
Que teu corpo calejava
Dos antigos imbecis
Da banda dos batutas
Dos sapatos furados
Do amor das prostitutas
Da legião dos farrapos
Na sombra úmida das grutas

Fala vagabundo
Que quer reviver outrora
Coçar marca de fungo
E roncar no romper da aurora
Assoviar com as ventanias
Banhar com as tempestades
Brincar com os pirilampos
Quando cairem as tardes
Brigar com os viralatas
E vomitar lorotas covardes

Fala vagabundo
Daqueles caminhos tortos
Daquele recanto imundo
Onde os planos foram mortos
Contudo não cores
A tua face enrugada
Onde já rolaram prantos
De saudade bem salgada
De palavras que ficaram
Na garganta engasgada

Fala vagabundo
Porque razão sepultaste
em fossos profundos
Os que pra tí foram trastes
Que agora é outras notas
Outros símbolos, outros elos
Que os que foram ja eram
E outros ficaram amarelos
e que no teu pomar de lodo
Hoje reinam cogumelos

Fala vagabundo


Sacha Arcanjo

3 comentários:

Márcio Silva disse...

Tio, esse texto dele é de quando?Bem louco...

Zé Vicente disse...

Esta obra prima de Sacha Arcanjo foi escrita no final dos anos setenta.

Marcelo disse...

Como você mesmo bem definiu, uma verdadeira obra prima. Belíssimo texto!