BECO DA HISTÓRIA
VERÃO DA LATA
No final de 1987, o navio cargueiro Solana Star, que
partira da Austrália com destino ao Panamá, atravessava o litoral brasileiro
transportando cerca de 20.000 mil latas contendo cada uma cerca de 1,5 Kg de maconha prensada.
Seus tripulantes foram avisados que a Polícia Federal e a Marinha do Brasil
sabiam da carga através de informação vinda do DEA – divisão norte-americana de
combate às drogas. Após serem perseguidos pela Marinha, acuados na região de Angra
dos Reis a tripulação do Solana Star resolveu “se livrar” da carga, atirando-a
ao mar, a uns 160 Km
da costa. As latas encontravam-se acondicionadas em cercas de metal, porém a
ação da maresia destruiu as cercas fazendo com que quase vinte toneladas de
maconha boiassem na superfície do litoral tupiniquim. As ondas se encarregaram
de fazer o resto e começaram a trazer recipientes parecidos com latas de leite em
pó devidamente abastecidas com erva. As latas se espalharam pelo litoral do Rio
de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina chegando até o Rio Grande do Sul. O circo
estava armado: o Jornal Nacional noticiava o acontecimento, religiosos diziam
ser obra do demônio, a polícia atrás das latas e da tripulação do Solana Star e
a galera “sedenta” se especializando em resgatar as tais latas do mar. A fama
da alta qualidade do produto rapidamente se espalhou dando início a uma busca
desenfreada por parte dos interessados e da polícia. Surfistas mergulhavam no
mar e voltavam carregando latas e latas recheadas de cannabis. O assunto virou tema de camisetas, gírias,
marchinha de carnaval, combustível para festas, inspiração para músicos (Fausto
Fawcett, Fernanda Abreu, entre outros), assunto predileto das manchetes, enfim,
o tema do momento.
Parte da apreensão realizada pela Polícia Federal |
Mais do produto apreendido |
Apesar de o navio ter sido autuado, a Polícia Federal
somente conseguir recuperar 2.500 latas, ou seja, mais de 16 toneladas do
produto “virou fumaça”. A empresa responsável pelo navio Solana Star alegou
desconhecer o conteúdo da carga. A embarcação foi apreendida pela Marinha, posteriormente
leiloada e convertida em navio pesqueiro, batizado Tunamar, que acabou
naufragando em sua viagem inaugural, de Niterói a Santa Catarina, em
11/10/1994, devido à má condição do tempo. A tripulação do Solana desapareceu e
o único a ser capturado foi o cozinheiro americano Stephen Skelton, condenado a
cumprir vinte anos de prisão no Rio de Janeiro. Aquele verão ficou conhecido
como o “Verão da Lata” no Rio de Janeiro e durante muito tempo a boa qualidade
de certas substâncias era expressa através do termo “da lata”! Embora existam
divergências quanto à exatidão dos fatos, este foi, sem dúvida, um acontecimento
único no mundo.
O livro “1988 O verão das latas de maconha”
conta a história do processo sofrido pelo cozinheiro do navio |
Marcelo
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