4 de abr. de 2013

LITERATURA













Esse texto foi dedicado ao meu amigo e parceiro de Papo de Esquina, Marcelo Silva. 
Está fazendo 10 anos que foi escrito e só agora está sendo publicado.         

                                 NOITE



Me fale da noite,  caro poeta
É só o que te peço nesse instante
Você que sabe da magia, dos mistérios,
Do medo e do fascínio que ela exerce
No coração e na mente dos solitários,
Que se deixou envolver por ela tantas vezes
Ao tentar a cura para  a sua angústia
Em seus momentos de desespero,
Me fale um pouco dessas noites.
Talvez assim eu consiga entender
Um pouco mais a respeito de mim mesmo
E das coisas que me atormentam.
Por favor, poeta
Me deixe beber um pouco em sua fonte,
Saber do seu chôro contido
Em noites de morte ou decepção,
Do seu pavor
Em noites longas de temporal,
E riso, em noites entre amigos
Ou carnaval.
Que músicas você ouviu,
O que leu, o que assistiu
Para  atenuar a dor no peito
Ou aumentar sua raiva nessas noites.
Me diga se você xingou,
Quantos cigarros fumou,
De quem mais sentiu falta
E quantas você tomou
E, se quiser, até sobre quem amou.
Me dê uma chance, caro poeta
Meu peito dói, mas eu peço
Me fale um pouco da noite.
Antes que amanheça e seja tarde.
Me fale dos bêbados felizes
Das putas e dos viciados
E de outros infelizes que encontrou,
Das traições, das brigas, das mágoas
E das pessoas que tentaram em vão
Te consolar pelas mesas dos bares
Nos piores momentos.  
Me fale das noites no exílio
Das viagens de trem, o barulho dos trilhos
E dos riscos de luz do lado de fora, no frio.
Perdoe a minha insistência
Mas você pode me mostrar uma saída.
O tempo passa rápido e as respostas não vem
E essa angústia que me aperta
Me leva a te pedir de novo
Fale comigo a respeito da noite
Fale das caminhadas sob o sereno,
Dos cochilos nos bancos de jardim
Das corujas, dos lobos e dos vampiros
E da lua cheia que clareou sua inspiração.
Me fale dos amigos.
Espero que não me condene
Nem é a salvação o que procuro
Só quero saber mais a respeito da noite
Para tentar controlar meus impulsos
E tirar dela a energia que preciso
Compartilhar meus melhores momentos
E confessar a ela meus segredos.
Apenas dormir, seria desrespeitá-la
E seu silêncio precisa ser ouvido pela alma
E você, poeta
Sabe decifrar os pensamentos,
Então, humildemente te peço
Fale comigo a respeito da noite.
E então estarei certo que
Apesar da solidão do meu corpo
Meu espírito não estará só.

E a noite é apenas
Um lado da Terra sem sol
Ela às vezes é longa,
E às vezes, curta
Depende que quem a vive
Mas sempre vai embora, 
E sempre retorna
E o sofrimento de quem a espera
Está justamente no intervalo,
Que é o dia.

    
                           (Para Marcelo)

                           José Vicente de Lima                                                                                           

      Abril de 2003


Zé Vicente

Um comentário:

Marcelo disse...

Muito obrigado pela homenagem...esse texto é muito contundente para mim, são momentos, situações que vivi e quase ao extremo, a as vezes ainda as vivo, um pouco mais comedido mas não menos emocionado e novamente repito, por várias vezes de alguma forma você escreve como se usasse minhas mãos, o que para mim, é uma honra...Novamente obrigado, seu talento para a escrita está mais do que provado e comprovado....Valeu!